14 julho, 2009

Diário ilustrado de viagem > Ciclovia do Danúbio

Já em Lisboa, de volta ao trabalho! A partir das notas que fui escrevinhando num bloco posso agora reconstituir uma espécie de diário diferido de viagem. Ainda não tive tempo para organizar todas as fotos mas vou colocando nos albuns, a pouco e pouco...!




"Dia Zero: Transfer Munique – Passau "

Ao início da tarde chegou o voo com o Hugo e o Filipe… mas apenas uma bicicleta…!! A bicicleta do Filipe e a tenda haviam ficado em Lisboa, por razões que a TAP não nos mencionou. Ainda no aeroporto e após dois telefonemas lá se conseguiu perceber que a mercadoria seria transportada no voo seguinte que chegaria… às onze da noite! Como o alojamento estava já reservado em Passau, pedimos que fosse entregue lá, tendo eles assumido o compromisso de o fazerem pelas 10h30 do dia seguinte.

Tomámos o comboio para Passau com apenas duas das viaturas (a Dahon e a do Hugo), despedimo-nos da Desi que ficou em Freising e resignámo-nos a passar uma manhã ou, quem sabe, um dia a vaguear por Passau…




parque de estacionamento da estação de Freising, onde fizémos ligação




Sem prever estes acontecimentos, eu tinha comprado em Munique a versão em Inglês d‘As Aventuras de Hucklberry Finn” pelo Mississípi abaixo, para me entreter nos tempos de descanso. Com sorte poderíamos retirar do livro algumas dicas sobre como construir jangadas, o Filipe ia precisar…!!




"Dia 1: Passau – (quase até) Linz "





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A bicicleta do Filipe foi entregue, em Passau, 2 minutos depois da hora prevista!! Muitos pontos para a eficiência germânica! Assim não atrasámos demasiado a partida para a primeira jornada (e Filipe teve o bónus de não ter tido de carregar bicicleta e restante tralha do aeroporto para o comboio…!). Partimos pelo meio dia, pela margem esquerda e com muita vontade de pedalar, pelo que a média rondou os 25km/h até pararmos para almoço. No final do dia tínhamos percorrido 88km, muitos sob uma chuva irritante que surgiu entretanto. Decidimos ficar um pouco antes de Linz. Já não chovia mas não havia certeza quanto aos parques que existiam depois da cidade e já se faziam horas de jantar… Acampámos junto ao um restaurante, num campo relvado não vedado, por baixo de uma macieira e junto a um campo de trigo. O restaurante cede casa de banho e duche aos viajantes por 4 euros e, como foi o nosso caso, proporciona a oportunidade de lá tomarmos uma refeição . Montámos a tenda, pusemos tudo a secar e tomámos um bom banho e por pouco a cozinha do restaurante não fechava…!




"Dia 2: Linz – Melk"





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Depois de jantar apeteceu-me um passeio a pé, pela alameda que liga o rio à cidade e onde crescia já uma neblina nocturna. Havíamos completado 130km, de manhã sob um sol radiante mas de tarde sob uma chuva impiedosa…Pelo caminho, falhámos a visita ao campo de concentração de Mauthausen porque não vimos indicação dentro da cidade. Alguns quilómetros após, num abrigo enquanto preparávamos a bagagem para a chuva que se instalara, perguntámos a outros viajantes e ficámos a saber que havíamos passado o cruzamento… A meio da tarde mudámos de margem, tomando um dos vários pequenos barcos que fazem a travessia, sempre junto a pequenas localidades.
Aos 105km, em Ybbs, estivemos indecisos, parar ou não parar. Mas a etapa do road-book mencionava Melk e como sem dor não há glória, lá fomos nós.
A melhor decisão do dia foi mesmo a de ficar num pequeno apartamento, logo no primeiro alojamento que encontrámos à entrada da cidade. Da sala podia ver-se o Danúbio e assim que colocámos as bicicletas na cave surgiu um sol magnífico, de fim de tarde! Bicicletas lavadas e duche tomado, rumámos ao restaurante próximo. Na parede exterior o registo das cheias do rio








"Dia 3: Melk - Tulln"




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Acampámos no parque de Tulln, a 30km de Viena. Assim que montámos a tenda instalou-se uma chuva forte. A jornada foi longa e penosa, 90 difíceis quilómetros para quem não está treinado e acumulou o cansaço dos dias anteriores. Se o troço final antes de Tulln não se revelou muito interessante, já o restante caminho, percorrido numa região vinícola, foi excelente! Tem traços de Douro mas com as pequenas vilas e uma muito oportuna exploração turística: sente-se ali uma maior ligação ao rio. As vinhas estendem-se pelas encostas e foi com surpresa que vimos diversas equipas do exército austríaco a assegurar a limpeza dos cursos de água que atravessam os campos cultivados. O camping era simpático e tinha um restaurante acolhedor. No pórtico de entrada saúdam-se os campistas com o característico servus, que começámos a ouvir de alguns locais com que nos cruzámos, desde Passau.










"Dia 4: Objectivo Viena"




VIENA - FOTOS aqui



A chuva terminou antes do amanhecer e como tal foi possível arrumar tenda e bagagem de forma tranquila. A perspectiva dos (apenas) 30 km até Viena também era tranquilizadora. Ainda assim, um trajecto feito com vento frontal e algum cansaço fez com cada quilómetro parecesse interminável.

Parámos num posto de informação para recolher um mapa da cidade e pouco depois estávamos em pleno centro histórico da cidade ( e que cidade…!! ) . Pela rua de comércio mais movimentada da cidade, Mariahilferstr., chegámos à estação Westbahnhof onde eu já tinha um Hostel em vista. Pequeno e cheio de gente do mundo inteiro, grande parte em interrail ou algo no género, tinha no entanto duas coisas importantes: garagem para bicicletas e computadores para colocar umas fotos na Web. O pessoal na recepção era muito simpático e houve música no pateo interior até às 22h, hora do silêncio obrigatório. À tarde houve tempo para um passeio pela cidade: com um bilhete diário dos transportes de Viena foi possível conhecer o centro histórico, percorrer o anel (Ring) interior que terá sido em tempos muralhado e é hoje uma grande avenida circular, e chegar até Plater,zona de uma feira de diversões enorme, onde está instalada a roda gigante mais antiga do mundo em operação:




65 metros no ponto mais alto, 10 minutos para uma volta completa, vista soberba sobre a cidade!



Um dos tipos da recepção do hostel deu-me umas dicas interessantes sobre passeios organizados de bicicleta na cidade e esse seria o meu objectivo para o dia seguinte. Iria ser bom rolar sem a tralha, com a bicicleta mais leve, e conhecer a cidade de forma sistemática. O dia seguinte seria também aquele em que os meus colegas de trilho seguiriam o seu caminho, pois o seu objectivo estava 300km a jusante: Budapeste!








"A cidade"

Tomem (mesmo) o meu conselho, se quiserem (realmente) conhecer Viena: procurem este livro à chegada, se lá forem. Não é um guia, antes um livro tão pleno de história como cada recanto...









Imagens, minhas, dos dois dias, em vez de palavras.





No sábado, antes do regresso, ainda em busca do recuerdo final, passava ao lado da Stephansdom e ouvi sons que ecoavam, dentro... só para me deixar com saudades, orquestra e grupo coral ensaiavam o concerto de Haydn que dariam nessa noite...


...e entrei...


...vinte minutos depois, de alma nova e sorriso idiota de turista, lá voltei para o hostel para arrumar a trouxa e rumar à Westbahnhof